Mais do mesmo

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sexta-feira, 5 de novembro de 2004

Rissol

Nelito era um enorme e desajeitado hipopótamo, tão grande como ternurento e bonacheirão.
Passava as tardes no parque, sentado timidamente na ponta de um banco vermelho, quase a pedir desculpa por estar ali e quase não respirando... para passar despercebido a todos aqueles que por ali brincavam, felizes e despreocupados!
Nelito ficava assim, horas a fio sorrindo e observando as lindas brincadeiras para as quais não era convidado. O seu porte intimidava o mais corajoso e bravo companheiro de jogos!
E Nelito sabia que podia magoar os outros, mesmo sem querer.
Mas Nelito era feliz assim, ali sentado na ponta dum banco vermelho. Feliz, porque lhe era permitido observar a mais linda e querida patinha de quantas brincavam no pátio sem ter que mostrar que disso dependia a sua felicidade...
Como era bom estar ali, vê-la a brincar com aquele ar jovial e simpático e respirar o mesmo ar que ela!... Como era bom partilhar isso com ela! Ninguém sabia, nem mesmo ela! Aliás, a Nelito parecia-lhe que ela nunca tinha reparado nele... mesmo sendo enorme como era e tendo um sorriso que parecia iluminar todo o parque!
Mas Nelito era feliz assim! E quando caía a noite, levava para casa a sua imagem, com toda aquela energia e personalidade de alguém que não é igual a ninguém!
Ninguém era como ela... e havia outras patas igualmente lindas e fofas, quiçá até mais... mas ninguém era como ela!
Um belo dia estava Nelito no «seu» banco vermelho quando ela passou... e olhou para ele! Foi como se a terra tivesse tremido, como se o chão lhe fugisse debaixo das patas ou como se tivesse bebido um chá a ferver, tal foi o calor que sentiu inundar-lhe o enorme e desajeitado corpo, tal foi a tremura que o assaltou, como se, de repente, o Sol tivesse desaparecido e a neve e o frio fizessem a sua aparição!...
- Olá! - disse ela. Costumas vir aqui?
Nelito arregalou os olhos e a boca abriu-se-lhe de pasmo e incredulidade. Quis responder e nem balbuciar conseguiu. Maquinalmente, acenou afirmativamente, num gesto lento e hesitante.
- Como te chamas? - perguntou ela, sorrindo daquela mesma maneira radiante que ele tão bem conhecia.
- Ne... Ne... Nelito!
- Ah, que lindo nome! Eu chamo-me Rissol!
Nelito conseguiu sorrir, com o tal sorriso que parecia iluminar o parque.
- Tens um nome giríssimo! Como tu!...
E arrependeu-se no instante seguinte por ter deixado escapar estas palavras. Mas Rissol nem sequer deu mostras de ter ouvido.
- Querer brincar comigo?
- Sim, podemos ir para o balancé verde, que é o teu preferido.
E Nelito arrependeu-se novamente de ter aberto a boca, aquela enorme boca que dizia o que não queria dizer... ou o que não devia!
- Pois sim, vai ser divertido!
Rissol subiu para o balancé e Nelito sentiu-se tão bem, tão feliz, tão leve... que saltou para o seu lugar sem pensar nas consequências!


 
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