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domingo, 12 de agosto de 2007

Miguel Torga - 100 anos

Não podia deixar passar esta data sem a assinalar: se Miguel Torga fosse vivo completaria hoje 100 anos!

Esta data foi assinalada com pompa e circunstância aqui em Coimbra, com a inauguração de um monumento de autoria do arquitecto José António Bandeirinha e do artista plástico António Olaio, no Largo da Portagem e com a abertura da casa-museu, onde ele viveu mais de quarenta anos e cujo espólio foi doado pela filha do escritor, Clara Rocha e que é constituído pelos móveis, objectos pessoais, quadros e livros de Torga e ainda por um espólio documental composto por verdadeiras raridades bibliográficas.

A Ministra da Cultura primou pela ausência, bem como o seu Secretário de Estado. Nenhum membro do Governo esteve presente. Foi António Pedro Pita, delegado regional da Cultura do Centro e meu ex-professor na FLUC, a ter de fazer de conta que representava o Governo do ex-PS que tem (des)governado o país onde nasceu, viveu e morreu Miguel Torga.

Recordo bem a última e única vez que o vi, já lá vão uns bons anos, numa homenagem que lhe foi prestada e a que pude assistir, na companhia de alguns amigos (recordam-se, Paulo e Filipe?), no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, com a presença da esposa de Jorge Amado, Zélia Gattai. Creio que o já citado António Pedro Pita também esteve presente... se é que a memória não me está a pregar uma partida.

Ficou-me a ideia de Miguel Torga ser um homem simples, mas imponente, ele que já estava doente e na recta final da sua vida.

Não sou ser fingido e dizer que conheço bem a sua obra. Na verdade, apenas li alguns dos seus poemas dos "Diários" e alguns dos seus "Novos Contos da Montanha". Ah, e também tive contacto com "Os Bichos", através duma magnífica representação a que assisti na cidade da Guarda (provavelmente há mais de 20 anos) e em que o palco foi a Sé e a zona envolvente. Não me lembro da companhia que produziu o espectáculo, mas algumas das cenas ainda perduram na minha memória, tal foi a sua espectacularidade. Talvez algum dos meus amigos guardenses se lembre... :)

Aqui fica um dos seus pequenos grandes poemas:

Segredo

(Coimbra, 4 de Maio de 1956)

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

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