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terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

Para meditar

Está a terminar o período de discussão pública do anteprojecto de decreto-lei da reforma da educação especial e do apoio sócio-educativo. A propósito dele, leio no "Diário de Coimbra" as declarações de José Afonso Baptista (antigo Director Regional de Educação), que lidera os projectos educativos da Fundação Bissaya Barreto e não posso deixar de sublinhar (para meditar agora e mais tarde, com mais tempo e sem sono) algumas ideias:

  • O "grande mal" na educação das crianças surdas é que sempre foram colonizadas pelos ouvintes... e essa lógica é hoje rejeitada por eles, considerando que não são deficientes e que têm direito à sua identidade própria.

  • Um surdo só se torna deficiente a partir do momento em que querem obrigá-lo a ouvir, o que nunca é possível. E quando querem que ele, a partir daí, fale como os outros, o que é impossível.

  • A educação das crianças tem de ser feita, não pela via da reabilitação, mas sim pela via da identidade surda, da língua gestual, que é uma língua riquíssima, pela qual se pode aceder ao conhecimento.

  • O currículo tem de ser adaptado, mas não facilitado, porque os surdos não precisam. Basta que [o currículo] privilegie as fontes de informação que vêm através dos olhos, que são os ouvidos dos surdos.

  • O surdo tem dificuldade de comunicação com o ouvinte, não tem com outro surdo. As pessoas precisam de comunicar e comunicam com quem as entende. Portanto, integração [em escolas e turmas regulares] sim, mas sem esquecer a educação em ambientes de grupo e de unidades de instituições.

    TESE: o surdo só se torna deficiente a partir do momento em que querem obrigá-lo a ouvir!

    PS. A entrevista aborda outras ideias interessantes. Talvez volte a falar dela noutra altura.

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